A prefeitura de Xangri-lá declara não poder intervir, porque trata-se de propriedade privada. Ao veranista leigo que escreve, parece que faltou vontade. Imagino que algum tipo de parceria público-privada seria possível, assim como foi possível à prefeitura espalhar placas indicativas da plataforma de pesca Paraguassu afora, estampar a foto da plataforma na capa do carnê do IPTU ou usar sua imagem como plano de fundo no site oficial. Dinheiro não deve ter sido problema. Com a grande quantidade de casas que pagam altíssimos valores de IPTU e geram pouca demanda de infraestrutura e necessidade de manutenção por estarem quase sempre desabitadas, alguma capacidade de investimento este rico município deve ter. Falta de tempo também não serviria como desculpa. Desde 1997, quando uma parte da plataforma desabou, todos sabiam que algo precisava ser feito. Em 2019 e 2020, quando quedas de parte das muretas interditaram outras áreas do histórico ponto turístico do litoral norte, a situação já estava muito crítica. Projetada para durar 30 anos, a plataforma agonizava desde o fim da década de 90. Restou, então, apenas o argumento do impedimento legal. Difícil de entender.
No último 15 de outubro, com muita tristeza e pouca surpresa, compartilhei as muitas fotos e vídeos da plataforma destruída que flutuavam pelos grupos de Whats. Lembrei dos tempos de infância, quando voltávamos de Capão da Canoa para Rainha do Mar pedalando enferrujadas monaretas pela beira da praia, empurrados pelo nordestão. Muitas vezes parávamos no caminho para subir na plataforma e apreciar a vista. Lembrei de alguns momentos em que a plataforma esteve presente na minha vida, quebrando a rotina, entretendo, inspirando e acalmando a alma. A primeira plataforma marítima do estado foi inaugurada em agosto de 1970, mas tenho a sensação de que sempre existiu. Muitos veranistas, turistas, pescadores e surfistas aproveitaram a vida no entorno dela, nem sempre convivendo de forma harmônica, é verdade, mas sempre desfrutando com energia deste lugar quase mágico no meio de um litoral reto e sem graça. Mais do que uma estrutura de concreto ou um icônico ponto turístico do litoral norte, perdemos parte da nossa história, um elo de ligação entre passado e futuro.
Mas, enfim, para viver bem é preciso diluir as perdas que nos são impostas. Agora, espero que a prefeitura atualize as fotos da plataforma no site, mostrando seu estado atual. Como diria meu amigo Fábio, é o mínimo que se espera. Embora fazer uso institucional de uma propriedade privada não seja ilegal nem imoral, propaganda enganosa de uma plataforma que não mais existe, pode ser. Agora espero pouco. Depois da declaração da prefeitura de que nunca pôde fazer nada para salvar a plataforma por se tratar de propriedade privada, espero muito pouco do poder público. Na verdade, sempre esperei.
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