As pessoas são uma coisa mesmo.
Eu não posso dizer que sou normal, pois tenho lá minhas estranhezas, por exemplo: não sou do tipo que adora reencontrar antigos amigos ou conhecidos. A bem da verdade, já fui mais arredio e hoje até sou um pouco mais sociável. Me esforço, ao menos.
Esses dias, na fila para a vacina terceira dose da Covid, na minha frente, eis que vejo uma senhora que me lembrou alguém. Alguém que há muitíssimo tempo eu não via. Uma namoradinha de pré-adolescência. Coisa dos meus 12 anos.
A Carla.
Foi minha primeira namorada. Ela era uma fofinha. Muito bonitinha. Foi uma relação quente e tórrida como era de se esperar de pequeninos de 12 anos. Muita mão na mão e nada de beijo. Nunca, nenhum beijo. Ora, eramos uns bebês!
Crescemos, nos mudamos, nos esquecemos.
Mas as redes sociais chegaram e pudemos nos procurar. Nos achamos. Mas não foi assim aquela coisa de nos procurar porque "tínhamos algo" e tal…que nada! O Face chegou forte no Brasil, digamos, lá por 2010 e nós só nos conectamos por volta de 2018. E nem nos falamos. Foi eu achar a irmã dela e, por pura sugestão do Face, me conectei à Carla.
Estamos lá, no Face, próximos mas distantes. Não somos amigos de fato e não mais nos conhecemos. Aliás, aos 12, acho que nunca nos conhecemos de fato. Mas estamos lá, conectados no Face como tanta gente que nem se conhece.
E, voltando à fila da vacina, estávamos lá, eu e Carla, há um metro e meio de distância, como o bom protocolo de distanciamento da Covid manda. Ela na minha frente, eu atrás, com minha esposa.
O que eu não falei, mesmo que os bons entendedores tenham suposto, é que estávamos, obviamente, ambos de máscaras. O protocolo!
Agora pense: ambos velhos, cerca de 45 anos depois de termos tido nosso tórrido romance pré-adolescente, com parcas atualizações visuais que as redes sociais digitais nos possibilitam, e ambos de máscaras…não é muito evidente que cada um seja cada um para o outro, não é? E aí tu acrescenta o acaso do acaso que isso é, em que duas pessoas decidem tomar a sua terceira dose, num determinado posto de saúde, no mesmo dia e na mesma hora e ficam justamente um depois do outro na fila!!
Eu mesmo pensei: é muito acaso para ser verdade.
A possibilidade de ser a Carla era mínima e até comentei com minha esposa: parece a Carla, minha namoradinha de infância.
Mas ela estava de máscara! E, mesmo que não estivesse, eu teria poucas condições de reconhecê-la.
Só que eu tenho alergia às máscaras e não consigo usá-las por muito tempo e, já que estávamos na rua, baixei a máscara para não começar a espirrar. Com a máscara baixa e meu lindo e escultural rosto à mostra, a suposta Carla poderia me reconhecer, ou não. Não houve sequer troca de olhares, muito menos um reconhecimento dela de mim. Pensei: ora, se fosse a Carla ela teria me reconhecido e dado ao menos um oi. Ou, se não deu, é porque não quis. Ou...talvez não fosse a Carla.
Papo vem e papo vai numa fila que não andava por total incompetência do pessoal encarregado daquele posto, chega a hora da Carla para sua vacina. Vêm o enfermeiro e lhe solicita os documentos. Ele pega sua identidade e…eu prestando máxima atenção para ouvir o nome e confirmar ou não a Carla…
Sim, ele fala Carla. Era ela, caramba! Que acaso!
Como ela estava velha e eu inteirinho…inda bem que não casei com ela.
Tá, não pensei isso. Ou pensei? Não sei, não lembro. Era tanta dor nas costas de ficar em pé na demorada fila…é, também estou bem velho.
Mas a Carla…porque ela nem sequer deu um oi quando eu baixei a máscara e ela teve chances de confirmar que eu era eu?
Bom, como dizia minha velha e chata mãe: caum caum.
E foi um capítulo que passou.
Chegou minha vez, vacinei, doeu, reclamei da demora, fui pra casa, descansei e…fui dar uma olhadela no Face.
E não é que a Carla resolveu me dar uma indireta digital?
Gente, a muié não quis me dar um oizinho e depois me cobrou reconhecimento no Face. Pode?
Qual a lógica disso Carla? Porque isso Carla?
Me desculpe Carla!
Você está bem Carla?
Como vai a vida Carla?
Carla! Não me ignore Carlaaaaa!!
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Teste
Sab, 11/05/2024 - 09:13
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